O voto é uma arma carregada de significados
Joanes Machado da Rosa,
diretor do Sintergs*
Mais uma campanha eleitoral aproxima-se e, por incrível que pareça, o servidor público continuará a votar nos seus algozes nas eleições. Com perda de poder aquisitivo que beira à metade do que recebia há sete anos, os espasmos de indignação no período entre as eleições darão lugar à mais absurda alienação produzida pelas mídias da campanha eleitoral, a pessoalização da figura dos candidatos ou a supremacia ideológica conservadora.
Sabemos que os meios de comunicação, na sua quase totalidade, produzem uma eficiente lavagem cerebral nos eleitores, induzindo-os à escolha dos candidatos afinados com a sua causa e de seus patrocinadores. Aliado a isto, a falta de percepção desta manobra e a análise rasa e pouco criteriosa do passado recente, são componentes de eficiência do suicídio político-eleitoral da maioria dos nossos colegas. Embora acompanhando o encaminhamento dos projetos de lei aos legislativos e o comportamento dos legisladores, os servidores públicos, em elevadíssimo percentual, continuam votando naqueles candidatos que vêm, dia após dia, retirando nossos direitos.
Em política não se pode imaginar que um deputado, seja de qual partido for, apenas por ser das nossas relações ou nosso amigo, vá votar contrário aos interesses de seu partido, de seu presidente, governador ou prefeito. Isto é uma ilusão daqueles que não conhecem os meandros da política. Ademais, os partidos de direita ou de centro-direita não votam favoravelmente aos interesses da classe trabalhadora.
Não basta não votar em candidatos ao executivo que estejam no espectro oposto aos nossos interesses e votar em candidatos a deputado desse mesmo espectro político. Eles irão votar de acordo com seu grupo e o eleitor ingênuo que sofra as consequências. Sobre isto, um questionamento se faz necessário: os servidores que votam em candidatos ligados ao empresariado são necessariamente alienados, masoquistas ou ideologicamente alinhados à classe social que os espolia?
Custa crer que servidores que se diplomaram em um curso superior e, por conseguinte, devem ter a capacidade de ler as linhas e as entrelinhas, não notem que por baixo da pele de cordeiro está um lobo prestes a devorá-los. Custa a crer que cheguem ao ponto de colocar em jogo sua sobrevivência, num brutal processo de autofagia, ao apoiarem seus algozes. Custa a crer que seja uma atitude “lambe-esporista”, como diria o Odorico Paraguaçu, tão atavicamente impregnado na elite ilustrada dos servidores da querência amada, que os leve a prestigiar mais a casa grande do que a senzala.
Por vezes, frente a esta realidade, perde-se a esperança por melhores dias, por transformarmos essa massa imensa de trabalhadores do setor público em protagonistas do seu presente e exemplo para os que vierem depois. Ainda há tempo para estancarmos a sangria dos nossos direitos. Reflitamos sobre esta situação e ajamos para salvar o pouco que ainda resta, senão, nem Jesus salvará.
*Artigo originalmente publicado no site Sul21 e no Informativo do Sintergs – edição 68 – Setembro de 2022
Foto: Carlos Macedo/Divulgação Sintergs
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