“Gosto de pensar que ajudei a abrir caminho para uma geração de mulheres”, diz associada centenária do Sintergs
Sem internet, redes sociais, notebook, nem celular. Há 100 anos, não eram comuns grandes eventos, shows musicais e espetáculos. Há um século, o Brasil ostentava 80% de analfabetos. O Rio de Janeiro era a capital do País. Dizer que se tratava de outro mundo não é somente uma força de expressão, principalmente pelo avanço da posição da mulher.
No último dia 8 de março, comemoramos o Dia Internacional da Mulher. A data origina-se de uma série de atos de mulheres que lutavam por melhores condições de trabalho, no início do século XX.
Celebrada até hoje, a data marca a busca por direitos, protagonismo e lembra as conquistas das mulheres ao longo da história na direção da igualdade de gênero. Também faz lembrar o quanto ainda é preciso avançar.
O papel da mulher há cem anos era bem diferente de hoje. No Brasil, a mulher conquistou o direito ao voto somente em 1932. Um ano após conquistarem o direito ao voto, em 1933, foi eleita a Carlota Pereira de Queirós, a primeira deputada federal brasileira.
No ano seguinte, em 1934, a professora Antonieta de Barros, filha de uma escrava liberta, foi eleita para a Assembleia de Santa Catarina. Ela foi a primeira parlamentar negra da história do Brasil.
A primeira mulher no serviço público data de 1918, quando Maria José de Castro Rebello Mendes foi aprovada em primeiro lugar no concurso de Diplomata, para atuar no Itamaraty. Sua nomeação ocorreu em 28 de setembro daquele ano.
Associada do Sintergs, a servidora pública de nível superior Maria Celeste, completando hoje 104 anos , relembra como o mercado de trabalho e o serviço público eram diferentes quando do início de sua carreira. Celeste destaca, por exemplo, o papel dos Sindicatos na defesa dos trabalhadores e, principalmente, das mulheres trabalhadoras.
“À época, o sistema de trabalho e as relações eram muito diferentes. Nem é possível comparar. Passei por vários períodos no Brasil e no serviço público. Mas gosto de pensar que ajudei a abrir caminho para uma geração de mulheres que, cada vez mais, passam a ser protagonistas e tornar o mundo menos machista e dependente de homens”, salienta Maria Celeste.
Projeção feita pelo Fórum Econômico Mundial em 2018 mostra que serão necessários mais de dois séculos para haver igualdade de gênero no mercado de trabalho.
Em outros segmentos, como educação, saúde e na política, as desigualdades entre homens e mulheres no mundo precisarão de 108 anos para chegarem ao fim.
Atualmente, as mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mesmo assim, elas ainda são minoria na política. Apenas 12% das prefeituras brasileiras são comandadas por mulheres, segundo o TSE.
Na verdade, o processo de empoderamento feminino passa pela educação e pela comunicação, que precisam ser cada vez mais potentes na busca pela igualdade entre mulheres e homens.
Somente a partir da Lei nº 6.515/1977, promulgada em 26 de dezembro de 1977, é que o divórcio tornou-se uma opção legal no Brasil.
Outra grande conquista das mulheres, sobretudo no combate a violência, é a Lei 11.340/06, que recebeu o nome de “Lei Maria da Penha”, em homenagem a uma farmacêutica que ficou sem os movimentos das pernas após ser vítima de violência doméstica. Até 2006, o Brasil não tinha nenhuma lei que tratasse especificamente da violência doméstica.
Só recentemente, em 2015, a Constituição Federal brasileira reconheceu, a partir da Lei nº 13.104, o feminicídio como um crime de homicídio. Depois, somente em 2018, a importunação sexual feminina passou a ser considerada crime. Assim, a partir da Lei nº 13.718/2018, o assédio passou a ser considerado crime no Brasil.
“O Sindicato tem um papel preponderante nesse processo, pois tem autonomia para combater assédios de todo o tipo e garantir os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras. Sou mulher e sindicalizada com muito orgulho até hoje sabendo da importância disso para quem está na ativa e quem é aposentado. Mais que isso, para aqueles que ainda ingressarão no serviço público que ainda é uma porta para autonomia das mulheres”, conclui Maria Celeste.
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