Servidores do RS perdem metade da renda em sete anos

Servidores do RS perdem metade da renda em sete anos

Especial – Dia do Servidor

O Dia do Servidor (28/10) coincide com a divulgação de um dado alarmante: a perda de praticamente metade do poder de compra do funcionalismo público estadual. Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a pedido do Sintergs, mostra que o salário de especialistas em saúde, analistas de projetos e políticas públicas e extranumerários encolheu 48,3% em sete anos, considerando a inflação medida pelo IPCA/IBGE. Estes profissionais atuam em praticamente todas as áreas do governo, como Saúde, Agricultura, Obras, Planejamento, Turismo, Cultura e Meio Ambiente.

“Quando o governador Eduardo Leite diz que colocou as contas do Estado em dia, esconde que foi em cima do sacrifício e do confisco do salário dos servidores. O governo está estrangulando a renda dos trabalhadores que executam as políticas públicas do Estado”, afirma Antonio Augusto Medeiros, presidente do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS (Sintergs). O dirigente lembra que não conceder a inflação fere a previsão constitucional de irredutibilidade salarial, pois negar este repasse tem o mesmo efeito prático da redução.

Mesmo que a inflação fosse zero, os salários praticados no país são insuficientes para cobrir o custo de vida. “A realidade, que já era degradante antes da chegada da pandemia, revela o abandono e o descaso do governo com as políticas públicas desde 2016 e que se agravou de 2019 para cá”, destaca a economista Daniela Sandi, do Dieese.

E os servidores estão, cada vez mais, tendo de se equilibrar diante da alta de preços, que se acelerou recentemente. Somado à perda do poder de compra pela inflação, os funcionários públicos do Estado ainda amargaram atrasos e salários parcelados durante seis anos.

Custo do orçamento familiar aumenta além da inflação entre 2014 e 2021

Entre os produtos da cesta básica, o óleo de soja subiu 217,5% entre 2014 e 2021, tendo a maior alta entre os alimentos essenciais. A carne teve aumento de 116,3%, o arroz, 100%, e o feijão, 92%. A alta de preços destes itens contribuiu para a elevação de 96,2% no valor da cesta básica, ainda considerando a mesma base de comparação (veja mais detalhes nas tabelas).

“Com arrocho salarial sem precedentes desde 2014, nesse mesmo período os itens essenciais do orçamento dispararam, subindo bem acima da inflação média”, reforça a economista Daniela Sandi, do Dieese.

No orçamento familiar, a cesta básica foi o terceiro indicador entre os que mais subiram de preço em sete anos. O campeão foi o gás de cozinha, com aumento de 120,5%. Em segundo lugar, a gasolina, com alta de 113,6%. E, em quarto, a energia elétrica, que ficou 91,4% mais cara. “A inflação e o avanço assustador de preços escancara a corrosão dos salários dos trabalhadores do Poder Executivo”, pontua Antonio Augusto Medeiros, presidente do Sintergs, lembrando ainda que, além de não ter nenhum tipo de reajuste, os servidores perderam progressões na carreira que poderiam reduzir, pelo menos em parte, as perdas.

A piora das condições de vida da boa parte da população e dos trabalhadores está diretamente ligada às escolhas econômicas e políticas dos últimos anos, considera Daniela, que destaca baixo crescimento, forte desregulamentação dos direitos trabalhistas, redução dos serviços públicos e desestruturação do mercado de trabalho e de políticas de transferência de renda em nome de medidas neoliberais. “A narrativa, o discurso do menos pior, ou seja, é menos pior perder direitos do que emprego, é um arranjo que joga trabalhadores contra trabalhadores, enfraquecendo a resistência da classe trabalhadora”, afirma.

A economista ressalta que estes são caminhos que já se mostraram desastrosos e que foram abandonados na maioria dos países desenvolvidos, que estão recuperando mais rapidamente suas economias. “A história e as experiências empíricas nos mostram que o mercado é promotor de desequilíbrios, desigualdades e não de equilíbrio. Não há dilema entre o gasto público e o crescimento, ao contrário, há complementaridades e sinergias”, ressalta Daniela.

Produtos da cesta básica que mais aumentaram
ItensNov/14Set/21Variação
Óleo de sojaR$ 2,57R$ 8,16217,5%
CarneR$ 20,40R$ 44,13116,3%
ArrozR$ 2,28R$ 4,56100%
Feijão  R$ 4,35R$ 8,3592%

Fonte: Dieese

Variação de preços de itens essenciais do orçamento familiar
(de novembro de 2014 a setembro de 2021)
Gás de cozinha120,5%
Combustível (gasolina)113,6%
Cesta básica96,2%
Energia elétrica91,4%
Tarifa ônibus municipal62,7%
Refeição em restaurante60,7%
Água – Corsan 58,6%
Água – Dmae    54,9%
IPCA/IBGE     48,3%

Fonte: Dieese, a partir de dados de IBGE, IEPE/UFRGS e Dieese

Custo de itens do orçamento em Porto Alegre
ItensNov/14Set/21 Variação
Tanque de gasolina (44 litros)R$ 129,40R$ 276,30113,6%
Mensalidade escolarR$ 510,90R$ 948,1085,6%
Cesto Básico IEPE – 51 itens (alimentos, higiene e limpeza e gás de cozinha)R$ 620,80R$ 1.092,0075,9%
CondomínioR$ 135,70R$ 198,8046,5%
Telefone celular R$ 53,60R$ 70,7031,8%
AluguelR$ 1.089,60 R$ 1.282,40 17,7%
Gasto monetário (total)R$ 2.539,90R$ 3.868,2052,34%

Fonte: IEPE/UFRGS

Reportagem: Karen Viscardi
Edição: Bruna Karpinski

Foto: André Feltes

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