Um novo espírito caudilho
Antonio Augusto Medeiros
Diretor-presidente do Sintergs
O governo de Eduardo Leite recém iniciou e a sensação é de um déjà-vu de quatro anos atrás. O debate econômico sobre a questão do equilíbrio fiscal no Rio Grande do Sul é mais uma vez a tática política do governador. Como parte de uma ideologia, apresenta a mesma ladainha sem fim que estrangula os investimentos e sempre projeta cenários catastróficos para justificar a diminuição do Estado e a destruição dos serviços públicos, com o consequente aumento das desigualdades sociais.
Eduardo Leite parte de um dogma econômico para empurrar a sua política sem discussão. O pessimismo é tão gritante, que cabe perguntar: o governo realmente acredita na viabilidade de suas medidas?
Na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2022, que já estimava a diminuição da majoração do ICMS dos combustíveis e da energia elétrica, previa um déficit de R$ 3,2 bilhões, o que no final de 2022 se confirmou num superávit de R$ 3,34 bilhões. Imprecisão, covardia ou estratégia política? Agora, na LOA para 2023, já considera as perdas de receitas com a redução das alíquotas de ICMS dos combustíveis e da energia elétrica, e apresenta déficit. No entanto, não considera a compensação desses valores pelo governo federal, e a retomada dos valores anteriormente cobrados de ICMS sobre tarifas de energia. Logo, o déficit de R$ 3,8 bilhões para esse ano pode se transformar em um novo superávit.
A política de Leite é cada dia mais clara: construir narrativas para arrochar os servidores, precarizar os serviços do Estado e continuar destinando grande parte do orçamento público por meio de isenções fiscais para alguns grupos. Mas, por trás dessa falta de mira e dessa ideologia esconde uma total descrença na possibilidade de crescimento do Estado ou a falta de um projeto econômico para o RS.
Até quando o povo gaúcho vai aceitar arcar com o ônus desta política estagnadora, sem rumo e que não considera o papel do Estado no desenvolvimento da economia? É necessário um novo espírito caudilho. Precisamos voltar a ter políticas econômicas claras e altivas, que enfrentem os desafios e coloquem o RS, novamente, na perspectiva de crescimento focado na diminuição das desigualdades sociais. Que enfrente temas como a reforma tributária e que promovam a reindustrialização do Estado.
O Rio Grande do Sul não precisa desta política pedante, de cabeça baixa e “pires na mão”. E agora, Eduardo?! Com a mesma política de sempre, exacerbada pela preocupação de construir uma imagem para se apresentar como opção para o governo federal, fica difícil.
Foto: Carlos Macedo / Divulgação Sintergs
Artigo originalmente publicado no Informativo do Sintergs – edição 69 – Maio de 2023
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