Pandemia, reflexão e luta para as mulheres
Artigo de Angela Antunes, diretora do Sintergs*
O ano de 2020 vai entrar para a história mundial. A pandemia de Covid-19 foi devastadora para a economia, mas muito mais para a vida humana. Escancarou a desigualdade e o abismo entre ricos e pobres, afetando ainda mais a vida das mulheres trabalhadoras, principalmente as mulheres negras. Foram as mulheres que ficaram mais expostas à violência doméstica, ao desemprego, à sobrecarga de trabalho e ao medo.
Entre as trabalhadoras de serviços essenciais do Estado, que não puderam realizar trabalho remoto por exercerem atividades ligadas à saúde, à agricultura e à segurança, houve uma grande apreensão, desde a verificação das más condições de trabalho, que envolviam a falta de EPIs e de protocolos rígidos de higiene e de saúde dos servidores, até o fato de não ter com quem deixar os filhos enquanto trabalhavam.
É interessante que mais de 100 anos se passaram desde que, em fevereiro de 1909, cerca de 15 mil trabalhadoras da indústria têxtil marcharam em Nova York para chamar a atenção sobre as más condições de trabalho a que estavam submetidas. Há mais de um século, também, operárias russas saíram às ruas, em 8 de março de 1917, para se manifestarem contra a fome e a entrada do país na Primeira Guerra Mundial.
Se formos um pouco mais longe na história, em 1888, no Brasil, ocorria a abolição da escravatura. As mulheres e os homens negros estavam livres, mas, perante a lei, não eram cidadãos e não tinham os mesmos direitos de seus pares. Os homens brancos, assim como hoje, estavam no topo da pirâmide social e econômica, acima das mulheres brancas, dos homens negros e das mulheres negras.
Isso nos leva a uma importante reflexão sobre a situação atual, já que mais de 130 anos após a abolição, a situação das mulheres, e principalmente das mulheres negras, ainda precisa de muita atenção e de luta. O mercado de trabalho continua injusto com as mulheres e a pandemia agravou ainda mais a situação. O machismo e o racismo continuam presentes e se tornaram temas de discussão ainda mais importantes em nossa sociedade com a pandemia.
Verificamos o aumento das dificuldades enfrentadas pelas mulheres trabalhadoras, sobretudo pelas mães, como as servidoras que contaram as suas histórias na reportagem deste informativo. Essas profissionais entendem a importância de suas atividades, mas denunciam a invisibilidade desse problema social, tanto para o governo, quanto para a sociedade.
Mulheres pioneiras, destemidas, conscientes, empoderadas, idealistas e fortes, que relatam a complexidade de conciliar a maternidade com o trabalho na linha de frente, o acúmulo de funções, as dificuldades financeiras com o salário parcelado e o cansaço físico e psicológico, além do medo de “levar o vírus para casa”. Juntas, elas representam um universo de servidoras públicas cujo trabalho tem sido tão desvalorizado pelos governos, mas essencial para a sociedade.
O ano de 2020 foi difícil, mas oportunizou discussões sobre as desigualdades e a necessidade de mudança. A pandemia escancarou esta ferida e mostrou, mais uma vez, que precisamos de uma sociedade mais justa, igualitária, com respeito aos direitos de todas e todos, sem machismo, racismo ou qualquer tipo de discriminação. Somos todos responsáveis por esta mudança.
* Artigo publicado no informativo do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS – edição nº 65 – Dezembro/2020
Foto: Arquivo pessoal
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