“Uma ilha em meio aos demais”
Em 26 anos de serviço público, a geógrafa Salete Beatriz Ferreira percebe que a representatividade na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) sempre foi pequena. Considerando negros com curso superior e pós-graduação, na Capital e no Interior, calcula que nunca chegou a dez servidores, entre homens e mulheres. A pasta tem aproximadamente 200 trabalhadores, sendo que cerca da metade são analistas.
A servidora fez graduação em Geografia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e mestrado em Meio Ambiente na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ressalta que a possibilidade de ter frequentado escolas e universidades públicas foi fundamental para conciliar as dificuldades financeiras com uma educação de qualidade. Na pós-graduação, Salete era a única negra da turma. Também lembra que na turma que ingressou no ano anterior e no ano seguinte não havia colegas negros. “Eu era praticamente uma ilha em meio aos demais”, recorda.
Natural de Santa Cruz do Sul, município de colonização alemã, Salete sempre circulou em ambientes onde há poucos negros. Em sua rotina de trabalho, as situações mais difíceis ocorrem nas ações de fiscalização no meio rural, quando exerce sua função de autoridade ambiental. “É onde mais aflora o preconceito, em um contexto já tensionado pela circunstância da ação”, relata, acrescentando que no ambiente urbano também há episódios de racismo estrutural.
Sobre os caminhos para ampliar a representatividade, no serviço público e fora dele, Salete aposta na união de esforços. “A mobilização tem que ser coletiva. Vejo que tem uma onda, ainda que discreta, vindo. Parte da base e tem que vir de todas as frentes, da população afrodescendente e também das pessoas antirracistas que não são afrodescendentes”, acredita. Para Salete, o “pulo do gato” será no momento em que todos estiverem juntos nesta luta.
Foto: Suzane Marcuzzo
A foto é do arquivo pessoal da servidora e foi feita antes da pandemia.
Respeito conquistado ao ocupar espaços
Servidor da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), o médico veterinário Leandro Santos Quaresma percebe que há poucos colegas negros ocupando cargos de destaque no funcionalismo público.
Empoderamento que vem da família e da condição social
A base familiar e econômica da médica veterinária Denise Figueiredo a fizeram uma mulher forte. Aposentada do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), foi ensinada a marcar posição e afastar atitudes racistas.
Educação abre caminho contra racismo
A engenheira civil Josi Beatriz Viegas Cunha atua na Secretaria de Obras do RS. Há 20 anos no serviço público, a profissional tem consciência de seu papel para ajudar a melhorar a vida das pessoas. E mantém suas referências, como as guias no pescoço e o dread nos cabelos.
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