Educação abre caminho contra racismo

Educação abre caminho contra racismo

Abidemi é aquela que chegou antes. O nome que rebatizou Josi Beatriz Viegas Cunha no batuque traduz o sentido que ela tem para sua comunidade. Mulher preta forte e pioneira, abriu caminhos para si pela educação. Mas revela que não cresceu sozinha – teve a força de sua ancestralidade e o apoio de pai, mãe e irmãs. As guias no pescoço e o dread nos cabelos há 21 anos são marcas de Josi. Mais do que mudar paradigmas, ela diz que carrega suas referências como forma de assumir seu estilo e sua crença na religião afrobrasileira.

Formada em Engenharia Civil pela PUCRS como aluna destaque da turma de 1993, é servidora estadual há 20 anos. Começou sua trajetória na Secretaria de Educação e hoje atua na Secretaria de Obras. Desde que ingressou no serviço público, a profissional tem consciência de seu papel para ajudar a melhorar a vida das pessoas. “O posto de saúde vai para a comunidade preta, a escola estadual vai para a comunidade preta”, conta, motivada pelo trabalho que realiza.

Na carreira, os desafios são grandes. “Minha posição não é de inferioridade, mas estou atrás até de quem entrou agora. Vejo que colegas brancas que fizeram faculdade já chegam em patamar superior, mesmo eu ganhando financeiramente mais, elas têm mais acesso. Tive de ser melhor do que homem branco e que mulher branca, ser a melhor das melhores, pois, além de ser mulher, sou preta”, explica.

“Às vezes, olham pra mim e dizem que as cotas não são necessárias: se tu conseguiste, outros também conseguem. Mas um dos meus anjos, homem preto que conseguiu meu primeiro estágio, não se formou. Faltou suporte familiar e econômico. Meus pais abriram mão de conquistas para eu me formar, eu abri mão. Meu pilar era de madeira, não era de concreto. Não havia estrutura, por isso a necessidade de reparação.”

Para a diretora do Sintergs, Angela Antunes, refletir sobre a desigualdade, sobre o acesso à educação, a representatividade e assumir que há privilégios em ser branco é o primeiro passo para a mudança. “Entender a necessidade das cotas, da dívida histórica do Brasil com os afrodescendentes e indígenas e desmitificar a meritocracia, como se todos tivessem acesso às mesmas condições, é fundamental”, considera.

A dificuldade de acesso à educação de qualidade é confirmada pela baixa representatividade de negros no serviço público, especialmente em cargos de nível superior. Em pesquisa da PUCRS realizada com associados do Sintergs e divulgada em outubro, apenas 3% se declararam pretos. Outros 5,7%, pardos, e 0,3%, indígena. Brancos chegam a 91% dos 366 entrevistados.

O Dia Nacional da Consciência Negra tem sua raiz em solo gaúcho, no Grupo Palmares, em Oliveira Silveira, Antonio Carlos Côrtes e outros militantes negros e negras. Angela faz um apelo: que o 20 de novembro conscientize também a branquitude. Como diz Grada Kilomba, é necessário sair da defensiva do “eu não sou racista” e se perguntar “como eu posso desmantelar meu próprio racismo?”.

Foto: Ivan Pereira

“Uma ilha em meio aos demais”

A geógrafa Salete Beatriz Ferreira percebe que a representatividade de negros na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) é pequena. Para alterar essa realidade, acredita que a mobilização tem de ser coletiva.

Respeito conquistado ao ocupar espaços

Servidor da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), o médico veterinário Leandro Santos Quaresma percebe que há poucos colegas negros ocupando cargos de destaque no funcionalismo público.

Empoderamento que vem da família e da condição social

A base familiar e econômica da médica veterinária Denise Figueiredo a fizeram uma mulher forte. Aposentada do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), foi ensinada a marcar posição e afastar atitudes racistas.

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