A raposa e o moinho
Artigo de Joanes Rosa, diretor do Sintergs *
Em setembro, foi divulgada a triste notícia sobre a decretação de falência da Aplub, resultando no desespero de milhares de pessoas que tiveram frustrado o direito de receber seus benefícios de aposentadoria. Os atingidos, na maioria idosos, não terão mais tempo para iniciar o pagamento de outro plano de previdência. E, mesmo aqueles que tiverem alguma outra fonte de renda, sem o aporte da aposentadoria não será suficiente, sequer, para sua sobrevivência, ocasionando prejuízos incalculáveis.
Certamente não foi o primeiro caso, nem o último, em que empresas de seguros ou de previdência privada entram em falência, ocasionando prejuízo incalculável para seus contribuintes. Os beneficiários dos fundos de pensão do Postalis (Correios), Funcef (Caixa Econômica Federal), Previ (Banco do Brasil) e Petros (Petrobras), por exemplo, ainda sofrem pela interferência de gestores nomeados ou de terceirizações de diretorias. Este cenário evidencia que a ação político-partidária e a onda neoliberal são uma constante ameaça para o futuro de milhões de pessoas, situação que não é exclusividade brasileira.
O Chile, por exemplo, privatizou a previdência e ocasionou o sacrifício da aposentadoria de milhares de pessoas, que hoje recebem menos de um salário mínimo como provento. Aqui, na querência amada, onde nunca seremos escravizados devido às nossas virtudes, há muito vem pairando a ameaça do desaparecimento da previdência pública do nosso IPERGS.
A “mão invisível”, referida por Adam Smith, com luvas de pelica, há bastante tempo vem movimentando as peças do xadrez da previdência pública do RS: alega a insustentabilidade do plano, caso não se façam alterações. Uma modificação aqui, outra ali, um aumento de alíquota, a criação de uma previdência complementar, a migração, a venda de imóveis, o não recolhimento da contribuição patronal etc. Tudo isso com a sutileza e a esperteza da raposa. Não a raposa da lenda, mas a real, a raposada, a implacável, a dos conchavos. A que não perde o focinho no moinho.
*Artigo publicado no informativo do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS – edição nº 65 – Dezembro/2020
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