O que tornou o RS o epicentro da pandemia

O que tornou o RS o epicentro da pandemia

Artigo de Antonio Augusto Medeiros, presidente do Sintergs*

O Rio Grande do Sul ganhou recentemente as manchetes dos jornais New York Times e The Guardian. Em vez de façanhas, o Estado e Porto Alegre foram apresentados como exemplos onde a saúde entrou em colapso. Em reportagem publicada no dia 27 de março, o NYT disse que a Capital é hoje o “coração de um colapso monumental no sistema de saúde do Brasil”.

Os gaúchos devem se perguntar como chegamos a esta vergonhosa situação. A resposta envolve gestores federal, estadual e municipal. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro desprezou a doença, questionou o uso de máscaras, estimulou aglomerações e investiu em remédios sem eficácia em vez de vacinas, o governador Eduardo Leite criou um modelo de distanciamento controlado para parecer que zelava por seu povo. Mas, quando pressionado por empresários e prefeitos, o governador lançou a tal de cogestão, dando maior poder aos municípios, expondo o quão fraco tem sido no enfrentamento à Covid-19.

Em Porto Alegre, a distopia é maior, com o prefeito Sebastião Melo apelando à população: “contribua com sua família, (…) com sua vida, para que a gente salve a economia do município”. O resultado está aí: recordes na média de novos infectados e de mortes. Salvamos a economia? Não, essa segue em frangalhos pela falta de ações efetivas de apoio ao emprego e à renda, responsabilidades de nossos governantes.

O que levou ao declínio um Estado que já teve seus exemplos exaltados mundo afora? Falta de lideranças políticas e de vontade por parte de governantes em proteger, em primeiro lugar, sua população. Há um desmantelamento na saúde, com a falta de concursos para reposição de pessoal. Elegemos governos que destroem os institutos de pesquisa, sucateiam estruturas e vendem patrimônio, a exemplo da Corsan e da CEEE, que estão sendo negociadas em plena pandemia.

Somos resistência no cenário de catástrofe. Estamos na linha de frente coordenando ações de saúde, promovendo a fiscalização e o trabalho essencial de cuidado com a população. Nós, servidores públicos, precisamos nos manter firmes, baseando nossa conduta na ética e na ciência, pois há gaúchos e gaúchas que dependem de nosso trabalho.

* Artigo originalmente publicado no Jornal Zero Hora de 6/4/2021.

Imagem: Reprodução Governo do RS

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