Seminário sobre narrativas que criminalizam serviço público lotou auditório do Sintergs
Uma população heterogênea e muito interessada lotou o auditório do Sintergs na quinta-feira (6) para participar do seminário “Pós-verdade e a construção de narrativas sobre o serviço e os servidores públicos”, que reuniu especialistas no tema para desvendar a prevalência de percepções distorcidas sobre a importância do Estado na atual conjuntura política do país. Devido ao grande número de perguntas e ao debate, o programa se estendeu por mais de três horas.
O seminário foi aberto pelo presidente do Sintergs, Nelcir André Varnier, que mostrou preocupação com o fato de que as narrativas sobre o serviço público partem de premissas sem correspondência em conteúdo real. “Como se constroem essas percepções é um tema central para nós. Precisamos entender o que está acontecendo”, justificou.
O professor Pedrinho Guareschi atribuiu o atual embate ideológico entre verdade e pós-verdade às disputas por hegemonia do sistema capitalista. “É a face da atual dominação ideológica, que busca reduzir a consciência a um nível de pensamento zero. Por quê? Porque a consciência é um processo infinito de busca por respostas e, quanto mais respostas eu obtiver, mas livre vou me tornar”, disse.
Segundo Guareschi, essa dominação – apesar da descentralização do uso de veículos de mídia pela internet – ainda parte de pressupostos concentradores. Por exemplo: 70% da população brasileira ainda se informa basicamente pela TV aberta, que tem um peso primordial na formação cultural das massas. E mais da metade das postagens via redes sociais repercutem informações difundidas pela mídia capitalista.
“A mídia está no meio de tudo, não há nada que não passe pelos meios. Precisamos entender isso para compreender como se constroem essas narrativas”, avaliou o professor, autor de vários livros sobre o papel dos meios de comunicação na vida cotidiana do país.
O especialista em análise institucional Fabrício Rocha completou o seminário com uma interpretação das narrativas construídas por setores conservadores da sociedade brasileira como forma de atacar direitos sociais – para ele, o ataque ao serviço público e aos servidores faz parte desse contexto.
“A pós-verdade é uma função ideológica. Sua meta é criar verdades não apenas a partir de mentiras, ou fake News, mas também a partir de verdades que possam se encaixar nas emoções e nas crenças a quem se dirigem”, definiu. O especialista usou como exemplo dessa estratégia o debate sobre a atual proposta de reforma da Previdência, baseada numa premissa verd
adeira: a população brasileira está envelhecendo.
“A partir daí, todos os argumentos distorcidos e falsos sobre os efeitos dessa premissa na economia do país passam a ser um valor. Com apoio da mídia, o discurso completo toma ares de verdade”, explica. A mesma estratégia é usada para criminalizar os servidores perante a sociedade: a premissa verdadeira é de que há desperdício de dinheiro público.
“A partir daí, a tarefa de culpar os agentes do estado fica facilitada para o objetivo macroeconômico de desmontar uma estrutura de bem-estar de investimentos em parcelas da população que têm menos acesso a serviços. No fundo, é uma disputa capitalista pelo dinheiro”, disse.
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