Maternidade, pandemia e o descaso do governo

Maternidade, pandemia e o descaso do governo

Imagine trabalhar durante a pandemia sem saber se conseguirá alguém para cuidar do seu filho enquanto você está no serviço. A cada semana, ver quem tem disponibilidade e em quais dias. “Está sendo horrível, é desesperador. Meu filho passa uns dias na casa do pai e outros comigo. É um absurdo, a sociedade não toca nesse assunto. Minha mãe mora fora de Porto Alegre e é grupo de risco. Tenho de recorrer a vizinho, irmã, afilhada. Assim como eu, outras mães estão na mesma situação, de não conseguir dar uma rotina para a criança”, desabafa a médica veterinária Beatriz Scalzilli, 41 anos, fiscal estadual agropecuária.

Mais de uma vez, Beatriz teve de faltar ao trabalho por não conseguir ninguém para ficar com Marcelo, cinco anos. Vice-presidenta da Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro), a servidora informa que a Secretaria da Agricultura não tem nenhuma orientação específica que contemple a situação dela e de outras mães, tendo de contar com a compreensão de sua chefe, que é mulher, também é mãe e lhe dá apoio pois entende a situação.

Em outro dia, deixou Marcelo chorando na casa da irmã para poder ir para a secretaria. Voltou antes da aula on-line do filho, que começa às 16h. Para compensar a saída mais cedo, trabalha no horário de almoço. Após a aula, arrumou casa, lavou roupa, fez janta, deu banho, brincou e, exaustos, mãe e filho foram dormir. Às vezes, o filho quer saber sobre o vírus, e repetidamente se é perigoso para crianças e adultos, preocupado consigo, seus amigos e com os pais. Além de explicar a importância dos cuidados para evitar o contágio, Beatriz fala sobre a doença, tendo o cuidado de não deixá-lo impressionado.

A servidora define como complexo o desafio de conciliar a maternidade com o trabalho na linha de frente, atuando presencialmente durante a pandemia. Sobretudo para as mulheres, pontua Beatriz, este é um problema social que os governos ignoram.

Foto: Bruna Karpinski

→ LEIA MAIS SOBRE AS SERVIDORAS MÃES QUE ATUAM NO SERVIÇO ESSENCIAL

 

Foto: Arquivo pessoal/Beatriz Scalzilli

Os desafios invisíveis das servidoras mães que atuam no serviço essencial

O Estado e a sociedade vêm fechando os olhos para mulheres com filhos que se mantêm em atividade presencial durante a pandemia. É o caso das servidoras públicas da Defesa Agropecuária, que atuam em serviços essenciais para a população. Confira as histórias nesta reportagem e nos destaques abaixo.

 

 

 

 

Foto: César Thomé

Falta de rede de apoio e suspeita de coronavírus afetam emocionalmente

O acúmulo de funções é realidade para a fiscal estadual agropecuária Aline Lima de Souza, 39 anos. A cearense não tem familiares próximos, então conta com a ajuda de uma babá e das vizinhas para cuidar do filho Antonnio Eduardo, 10 anos.

 

 

 

 

Foto: Lucio Amaral

Jornadas de trabalho prolongadas impactam no convívio familiar

“Falta tempo”. Essa é a percepção da fiscal estadual agropecuária Liese Vargas, 30 anos, sobre a realidade que vive desde março, quando começou a pandemia. Tempo para auxiliar a filha, Maria Eduarda, 10 anos, nas tarefas da escola e nas aulas on-line, e tempo para si mesma.

 

Compartilhe:

Verified by ExactMetrics