O futuro dos sindicatos de trabalhadores

O futuro dos sindicatos de trabalhadores

Artigo de Antonio Augusto Medeiros,
presidente do Sintergs*

Vivemos um momento de grandes transformações nas relações sociais e de trabalho, agravadas pela maior crise sanitária do século. Em uma sociedade onde a vida real impede o sonho e a luta pela sobrevivência se impõe com violência, não basta estarmos em cima do caminhão de som. Conhecer para transformar, somente com informação é possível mudar a realidade. Para isso, é necessária formação política e trabalho de base. Essa deve ser a missão do sindicalismo atual, focado em uma análise da dimensão política da sociedade.

Nós, sindicalistas, devemos nos voltar imediatamente para a teoria, com os pés no chão. No chão da fábrica, da terra preparada para o plantio, do asfalto quente e onde quer que pisem os trabalhadores. Sem divisão entre campo e cidade, público e privado, sindicalizado e não sindicalizado, concursado e terceirizado, empregado e desempregado. Fugindo da grande alienação introduzida pela lógica individualista do capital e exercitando um olhar totalizante. Pois, somente o todo explica a parte e é capaz de superar as contradições da sociedade capitalista. Somos a soma de muitos, não é possível revolucionar a ação sindical com personalismo dirigente.

Estamos vivendo uma guerra desigual. De um lado, há uma máquina ideológica que gera grupos sem ideias, sem direção, sem programa, sem estratégia e sem linguagem. De outro, nos falta uma ação revolucionária. É necessária a modernização de nossas práticas políticas. Precisamos utilizar todas as ferramentas e estratégias de comunicação. Somente assim daremos conta do desafio urgente de repensar também o futuro dos sindicatos de trabalhadores. Vivemos uma luta constante por compreensões simbólicas, que visa camuflar ou dar outra roupagem para a eterna luta pela produção material e o centralismo do trabalho.

Esta guinada de volta à teoria deve ser feita com muita atenção para que não se transforme no bom e velho idealismo. Precisamos de um sindicalismo de mangas de camisa arremangadas, como conclamava em seus escritos o grande sociólogo Guerreiro Ramos, em sua análise crítica às ciências sociais. As transformações estão em curso, e precisamos assumir com plenitude o nosso papel social enquanto representantes da classe trabalhadora.

*Artigo publicado originalmente no jornal Correio do Povo – edição de sexta-feira (30/4)

Foto: Carlos Macedo

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