Por quem os sinos dobram?

Por quem os sinos dobram?

Artigo de Raquel Fiori, diretora de Assuntos Previdenciários e Saúde do Sintergs*

Olha meus amigos, estamos passando por um cenário sombrio instalado com este desastre biológico aliado à insatisfação popular com o atual panorama político que o nosso País vem enfrentando. E, se não bastasse, temos os servidores públicos no meio desta confusão generalizada de ideias distorcidas de suas ações e atividades.

Mas afinal, o que faz mesmo um servidor público? É fácil saber. Basta você leitor ter aulas em uma escola pública ou necessitar dos serviços de um agente de saúde de sua região ou ser atendido nos serviços de emergência como os Pronto Atendimentos UPA e SAMU da Rede de Atenção Primária à Saúde do SUS, ou precisar dos serviços de fiscalização realizados em estabelecimentos de serviços de saúde, produtos, águas e alimentos ou de consumir alimentos com segurança de sua produção, através dos serviços dos técnicos da agricultura, por exemplo.

Posso lhes afiançar que ficaria aqui arrolando uma lista imensa de todas as atividades concernentes a este cidadão pertencente ao órgão público. Sabendo que o serviço público atende às necessidades essenciais da população, como saúde, segurança e educação, afirmo-lhes que nem tudo são flores no funcionalismo público. Nesta jornada, é bom que você conheça os dois lados da moeda. Uma das atribuições do servidor público é mudar a realidade social da população em geral, o que nem sempre é possível, pois existem motivos financeiros limitados e burocracia impeditiva. Esta situação induz a um sentimento de que ele nada pode fazer pois se sente de mãos atadas, o que não significa que os servidores precisem levar um choque de eficiência.

Então, na rotina diária dos servidores é preciso lidar com pressões, infraestrutura precária de trabalho, burocracia que exige lidar com preenchimentos de muitos papéis. E, como se não bastasse ouvir falar mal de seu desempenho, ainda ter que lidar com o apadrinhamento político, pois ele servidor público concursado, passou por provas, noites de estudo para àquele cargo a que se propôs e se qualificou a cumprir. Mesmo assim , ele tenta exaustivamente, mesmo sob esta chuva de falácias contra sua classe, exercitar empatia, equilibrar a rotina e ser o mais transparente possível em seus atos.

Como não bastasse todas estas mazelas, ainda nem falamos sobre os atrasos salariais. Sim, meus queridos leitores, servidores públicos também pagam luz, condomínio, aluguel, escola, médicos, remédios e, ah sim, ia me esquecendo, eles também comem!!!

As pessoas dizem que é interessante que eles, os servidores públicos, tenham esta experiência pois assim aprenderão a poupar. Mas o que você me diz dos colegas professores que foram às ruas de Porto Alegre mendigar dinheiro para pagar remédios e alimentação e sobre a ajuda humanitária de parentes e amigos para suprir com cestas básicas suas necessidades essenciais de sobrevivência. Além das taxas de suicídio que aumentaram no início dos atrasos salariais, as depressões decorrentes deste momento, as doenças mentais que emergiram e o aumento de antidepressivos.

Ouvimos que o servidor público tem que fazer a sua parte. Ora, a saúde precarizada é mais do que um pequeno sacrifício, é um ato de violência contra o ser humano. Ficar em casa com a geladeira cheia, onde será que estamos vivenciando isto!!

O preço da cesta básica aumentou em mais de 50%, os salários atrasados, as dívidas acumuladas, os empréstimos já sendo descontados, e como você acha que se pode conviver. Sei que não é um privilégio do servidor público estas adversidades, todos nós estamos passando por inúmeros atropelos. Mas porque somente os servidores públicos estão sendo atacados e rechaçados e ainda com aquiescência da opinião pública? Está ocorrendo um clamor popular desmedido, que atribui ao servidor público a responsabilidade pelos erros da Nação.

Ao invés de propor medidas de valorização do serviço público e dos servidores, o governo age no sentido contrário, ameaçando e intimidando, e aqui lhes pergunto : Por quem os sinos dobram: os sinos dobram em honra das pessoas — sem nome e sem glória — que morrem na luta da vida pública de alegrias e dor, de vitórias e derrotas, ou seja, eles dobram por ti (John Donne ,1624) .

*Artigo publicado no informativo do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS – edição nº 65 – Dezembro/2020
(Clique aqui para ler o informativo)

Foto: Arquivo pessoal

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