O prelúdio de uma catástrofe

O prelúdio de uma catástrofe

Artigo de Valdir Fiorentin,
engenheiro civil, arquiteto e urbanista e
diretor de Comunicação do Sintergs*

O incêndio da sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul é resultado da falta de cuidado com o patrimônio público, descaso que vem sendo denunciado há tempos por servidores e as entidades que os representam. Sim, é necessário investir e fortalecer as estruturas públicas, as instituições e, principalmente, o Poder Executivo, que é quem planeja, fiscaliza e executa as políticas de Estado.

Quando se diminui o Estado, o reflexo é desastroso. O sucateamento das estruturas técnicas, inevitavelmente, impacta nas estruturas físicas. Como já ocorreu há três anos, quando a sede da Emater Porto Alegre pegou fogo. Dois meses depois, um grande incêndio destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e parte do acervo cultural brasileiro. Esta semana mais uma perda: um galpão da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, em chamas. Todos estes episódios são emblemáticos. Evidenciam a falta de investimento dos últimos governos e podem ser o prelúdio de novas catástrofes com mais vítimas.

Que estes acontecimentos sirvam de alerta para o que está por vir. Temos pontes, barragens, escolas, creches, hospitais e penitenciárias, entre outras estruturas que estão na mesma condição. Com a política ultraliberal implementada no Brasil, no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre, a tendência é que a situação se agrave. Somente com investimento massivo nos serviços públicos, em especial nos servidores públicos, que mantêm o patrimônio do Estado, poderemos evitar estas tragédias. Mas o que se assiste é um ataque a estes trabalhadores, provocando desestímulo e, consequentemente, o abandono das carreiras, uma fuga de cérebros.

Quando se reduz o número de servidores, se tem menos fiscalização, planejamento e serviços à população. Estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS (Sintergs) mostra que o quadro de trabalhadores ativos no Estado reduziu 19,7% entre 2015 e 2021, caindo de 153.040 trabalhadores ativos para 122.852. Se o governo mantiver a política de desmonte das instituições, a população não só perderá em qualidade do atendimento, mas assistirá de forma mais recorrente a sinistros como estes no futuro.

Foto: Carlos Macedo

* Artigo publicado no jornal Zero Hora, edição de 2/8/2021

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